Projeto Educação e Vida em Comunidades Costeiras

SECRETARIA DA EDUCAÇÃO E CULTURA DE ICAPUÍ      PROPOSTA DE EDUCAÇÃO CONTEXTUALIZADA DOS POVOS DO MAR – 2011
EEF HORIZONTE DA CIDADANIA 
Coord.Geral: Mari Cecília Silvestre
Coord. Pedagógica da Escola: Maria Sileuda Silva  e Ednatan Ferreira da Silva                                           

1.      CONSIDERAÇÕES   
2008 - Formação Continuada para as Humanidades - Núcleo Humanas/UFC: Trabalho, Desenvolvimento, Educação
           Objetivo: Discussão teórica acerca da relação trabalho, desenvolvimento e educação; construção de projetos colaborativos em comunidades de aprendizagem.           
           Participantes: 12 professores (6 Joana Marques/ 6 Horizonte da Cidadania)
           Resultados: Produção do projeto Educação e Vida nas Comunidades Costeiras
                - Joana Marques: Turismo e geração de renda na comunidade de Barreiras
                - Horizonte da Cidadania: Produzindo e aprendendo com o caju

2009/2010 - Projeto de Formação Interdisciplinar de Professores de Comunidades Pesqueiras do Ceará – UFC/MEC_PROEXT
           Objetivo: Formação Interdisciplinar em conteúdos contextualizados, diálogo de saberes acadêmicos e populares, produção de conhecimento pela escola.
           Participantes: - Joana Marques: 11 professores
                   - Horizonte da Cidadania: 15 professores
           Resultados: produção de artigos científicos e textos sobre o contexto local, com a finalidade de subsidiar a produção de material didático: A formação contribuiu para o processo contínuo e exigente de constante formação/transformação dos docentes; a produção escrita significativa propiciou aprofundamento do olhar crítico sobre a realidade local; o desenvolvimento da capacidade de elaboração do conhecimento - exigência que faz o diferencial na vida profissional e na sociedade; condição para edição do material didático contextualizado, a partir das produções dos professores, nesta etapa; aprofundamento da visão de futuro e do papel da educação como uma agente fundamental para o desenvolvimento local sustentável; a compreensão de que a formação do professor é fator decisivo no processo ensino-aprendizagem, mas a responsabilidade pelo seu êxito envolve outros setores envolvidos; percepção da formação como processo que deve ser continuado nos próximos anos.
          Produções:
- EEF Joana Marques: Construções nas encostas; A importância da Educação Ambiental para os moradores da praia de Barreiras, Icapuí-Ceará; Icapuí e seus ecossistemas; Vocabulário pesqueiro; Comunidades que integram a Escola Joana Marques.
- EEF Horizonte da Cidadania: Mudanças alimentares na comunidade de Redonda Impactos de políticas educacionais nas comunidades locais: a experiência do PAIC no contexto da escola de Redonda; Crescimento populacional em Redonda; Turismo comunitário na praia de Redonda: reflexões acerca de suas possibilidades; Estratégia Saúde da Família na Unidade Básica de Saúde Estrela do Mar: arriscando uma avaliação; O uso de recursos tecnológicos na escola Horizonte da Cidadania e as perspectivas de contribuição no processo de aprendizagem; Meio Ambiente e saneamento em Redonda; Condições ambientais e incidência do peixe-boi no litoral de Icapuí, CE; A luta dos pescadores artesanais da comunidade de Redonda contra a pesca predatória irregular no município de Icapuí; Percepção dos pescadores de Redonda sobre o declínio da pesca da lagosta.

2.      PROPOSTA 2011
Objetivo: Retomada e reformulação do Projeto Educação e Vida nas Comunidades Costeiras, sob a nova perspectiva de uma Proposta Interdisciplinar de Conteúdos Contextualizados para as duas escolas envolvidas na experiência. Organização do material didático, construção da Mandala de Saberes e Projeto Político Pedagógico dessas escolas.

ETAPAS:
1.      Sistematização dos textos produzidos sobre o contexto local no final do curso de formação UFC (professores UFC/ Mari)
2.      Organização didática dos conteúdos (Equipe pedagógica SME e professores das escolas envolvidas);
3.      Discussão de outros conteúdos que podem compor o material didático – Sugestão: encaminhar pesquisa com alunos e produção textual com alunos e professores (projeto Interdisciplinar);
4.      Edição do material em forma de apostila (UFC/ SME);
5.      Discussão/ reformulação do projeto Educação e Vida nas Comunidades Costeiras (2008) de cada uma das escolas (Redonda e Barreiras), de acordo com a nova perspectiva criada pelo curso de formação – Semana Pedagógica (1 dia).

Construção da Mandala de Saberes
*      Potencialidades da comunidade de Barreiras: pesca e turismo de base local.
*      Potencialidades da comunidade de Redonda: pesca, turismo de base local e cajucultura.

               Metodologia:
Para transformar a escola em um espaço onde a cultura local possa dialogar com os currículos escolares, é importante reconhecer que as experiências educacionais se desenvolvem dentro e fora das escolas. No entanto, é atribuída à escola toda a responsabilidade formativa dos cidadãos, principalmente de crianças e jovens. Sem dúvida cabe à escola a sistematização do conhecimento universalizado, mas o sucesso de seu trabalho, em muito pode ser enriquecido ao ampliarem-se as trocas com outras instâncias sociais. Tal pensamento implica assumir uma disposição para o diálogo e para a construção de um projeto pedagógico que contemple princípios e ações compartilhadas na direção de uma educação integrada de responsabilidade tanto de escolas como de comunidades.
A Proposta de Educação Contextualizada dos Povos do Mar propõe uma metodologia de trabalho estruturada na diversidade de saberes que compõe a realidade social das comunidades na qual se insere, mas pretende-se aberta, capaz de assumir vários contornos e refletir as vocações e experiências comunitárias, frente às principais questões vividas pelos estudantes por ela atendidos. A educação, como nos ensinou Paulo Freire[1], é um lugar de conflito, onde o diálogo precisa ser conquistado. A aposta dessa formulação para os Povos do Mar está na construção de um instrumento capaz de lidar com saberes oriundos de distintas experiências e avançar na direção da escuta mútua e das trocas capazes de constituir um saber diferenciado. Se o ser humano é o sujeito de sua própria educação, não é somente objeto dela; como ser inacabado não deve render-se, mas interrogar e questionar. Escola e comunidade estão convidas a fazer este exercício.
Partindo desses pressupostos, o presente plano buscará pensar mais diretamente as relações entre escola e comunidade, isto porque não basta reconhecer que precisam romper os isolamentos em que se encontram, é necessário superar o desafio. Sem abrir-se para a comunidade a escola dificilmente cumprirá seu papel social. A comunidade, por sua vez, não pode nem deve prescindir da escola para seus projetos. A educação no âmbito da comunidade tem dupla dimensão: a comunidade como agente “educador” e, ao mesmo tempo, como sujeito (coletivo) que se educa.
A Educação dos Povos do Mar toma por base os pressupostos da “educação integral”[2], que estrutura, por um lado, uma articulação com distintas áreas dos saberes comunitários (onze campos do conhecimento que, independentemente de grupo social, estão presentes em todo o país de forma diferenciada). São os saberes que desenvolvemos na relação com o mundo, nossa forma de viver. Afinal todos nós possuímos formas específicas de habitar, nos vestir, comer, narrar histórias, nos expressar artisticamente, cuidar de nossa saúde, trabalhar, nos relacionar com o meio ambiente, estruturar o poder político, lutar por direitos, brincar e nos organizar em torno de um calendário. De outro lado estão os desafios escolares. Nesta proposta abordamos a formação do estudante para além do currículo escolar, vinculando-a com instâncias mais gerais de sua trajetória: a conquista da pesquisa. Pensamos que é fundamental para o estudante desenvolver a curiosidade, o questionamento, a observação, hipóteses, descobrir, experimentar, identificar e distinguir, relacionar, classificar, sistematizar, criar, jogar, debater, comparar e concluir, entre outras experiências formadoras. Essas habilidades são inerentes à prática escolar e em muitos aspectos relacionam-se também com os saberes comunitários.
É claro que não é fácil construir uma proposta capaz de manter vivo o debate entre escolas e comunidades, flexibilizando suas possibilidades. Entendemos que o campo no qual devemos conceber os projetos pedagógicos dos Povos do Mar situa-se na formulação de espaços de diálogo nos quais distintos saberes possam encontrar-se e reestruturar-se.

               Apresentando a Mandala de Saberes
Por que Mandala? A Mandala, como todos sabem, é símbolo da totalidade (aparece em diversas culturas primitivas e modernas) e representa a integração entre o ser humano e a natureza. Ela foi escolhida por representar inúmeras possibilidades de trocas, diálogos e mediações entre a escola e a comunidade. Entre escolas e comunidades circulam, pelo menos, dois grandes grupos de saberes[3]. De um lado estão os saberes avalizados pela sociedade através da produção acadêmica, de teses, publicação de livros etc. Um conhecimento que aspira à formulação de leis busca observar as regularidades e privilegia o como funcionam as coisas e não o seu fim. Esses conhecimentos são desenvolvidos em áreas específicas, distintas entre si (embora esse aspecto já seja questionado dentro do próprio pensamento acadêmico). Em relação direta com a vida estão os saberes que têm origem no fazer, que tem a experiência como grande fonte. Esses conhecimentos privilegiam qual o fim das coisas; respondem a necessidades humanas. Eles não estão organizados por áreas e suas fontes quase nunca estão em livros. Ambos saberes possuem limitações e possibilidades semelhantes.
A Proposta de Educação Contextualizada dos Povos do Mar avança na concretização de seu objetivo maior - contribuir com o desenvolvimento humano e a sustentabilidade do e no território, por meio da articulação de ações, de projetos, de parcerias com a sociedade civil e governos alterando o ambiente escolar e ampliando a oferta de saberes, métodos, processos e conteúdos educativos. O projeto pedagógico das escolas envolvidas será implementado por meio do apoio à realização, em escolas e outros espaços socioculturais, de ações sócioeducativas no contra-turno escolar, incluindo os campos da educação, artes, cultura, esporte, lazer, mobilizando-os para a melhoria do desempenho educacional, o cultivo de relações entre professores, alunos e comunidades
O projeto pedagógico se realiza através de parcerias entre escolas, membros das comunidades, famílias, poderes públicos, organizações sociais etc. em torno de uma ação comunitária e escolar comum. Queremos, mediante a ampliação de tempo e espaço, repensar os processos de aprendizagem, seus nexos e possibilidades de forma a ampliar também os conteúdos e metodologias na relação ensino-aprendizagem.
Para elaborarmos o projeto pedagógico para os Povos do Mar, utilizaremos os desenhos das Mandalas. A que usamos para apresentar as estratégias do Povos do Mar estrutura-se a partir do diálogo entre saberes comunitários, os escolares e os programas de governo (3 níveis). Essa Mandala pode ser comparada a uma Mandala Mãe (pois dela nascem diversas outras), a partir do encontro de possibilidades dos saberes e programas envolvidos. Ela é um instrumento para a construção de projetos de educação integral. esta Mandala é uma síntese, ela reúne os principais ingredientes que devem integrar a elaboração dos projetos pedagógicos.


[1] Freire, Paulo. Educação e mudança. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2006.
[2] Rede de saberes mais educação: pressupostos para projetos pedagógicos de educação integral: caderno para professores e diretores de escolas. – Brasília: Ministério da Educação, 2009.
[3] Souza Santos, Boaventura. Um discurso sobre as ciências. São Paulo: Ed Cortez, 2008.